LEVANTAMENTO DE VESTÍGIOS DE TATU-CANASTRA Priodontes maximus, NAS ÁREAS DA RESERVA PARTICULAR DO PATRIMÔNIO NATURAL VALE ENCANTADO, UBERABA, MG, BRASIL.

12/06/2012 09:48

 

 

1º Congresso Vale Encantado de Meio AMbiente

Cerrado: Diversidade e Recursos, 2011, p.  75 - 82

Uberaba / MG

TÍTULO: LEVANTAMENTO DE VESTÍGIOS DE TATU-CANASTRA Priodontes maximus, NAS ÁREAS DA RESERVA PARTICULAR DO PATRIMÔNIO NATURAL VALE ENCANTADO, UBERABA, MG, BRASIL.

 

AUTORES:    DAVI LEANDRO SANTOS CORREIA

                        JULIANA EVANGELISA DE FARIA

                        WILLIAM RAIMUNDO COSTA

 

RESUMO

Com o objetivo de mapear as áreas da Reserva Particular do Patrimônio Natural Vale Encantado (RPPNVE), em Uberaba, MG, Brasil, e de seu entorno, onde existem registros da ocorrência do Tatu-canastra Priodontes maximus, aplicou-se a análise de vestígios, bem como o georreferenciamento dos locais onde os mesmos foram encontrados. Considerando-se os dados levantados, foi possível estabelecer parâmetros que facilitem a interpretação dos dados, diferenciando-os daqueles obtidos em estudos de outras espécies de tatus.

Palavras-chave: Georreferenciamento; Tocas; RPPN Vale Encantado.

 

INTRODUÇÃO

 

O estudo de organismos tem cada vez mais contribuído para a preservação dos mesmos, em especial quando nos referimos às espécies deveras ameaçadas de extinção, como é o caso do Tatu-canastra Priodontes maximus Kerr, 1972.

A ecologia dos tatus é pouco conhecida e devido a isso prevalece a escassez de material disponível na literatura, e por conseqüência, para os estudos.

O Tatu-canastra Priodontes maximus Kerr, 1972, Xenarthra: Dasypodidae ocorre em grande parte da América do Sul, a leste dos Andes, desde a Venezuela, Colômbia e Guianas até a Argentina, Paraguai e Brasil (WETZEL, 1982). Segundo WETZEL (1985), no Brasil não existem registros na região nordeste, e ainda segundo SILVA (1984), no leste brasileiro esta espécie é cada vez mais rara. Goiás, Mato Grosso e a região do Gran Chaco foram consideradas as áreas de maior índice populacional (CABRERA & YEPES, 1940).

Fatores como a expansão da agropecuária e a forte pressão de caça representam os mais sérios riscos para a espécie (ANACLETO & FILHO, 2001).

De acordo com a União Internacional Para a Conservação da Natureza (IUCN), o Tatu-canastra Priodontes maximus Kerr, 1972, foi classificado como vulnerável e está no apêndice I do CITES – Comércio Internacional das Espécies da Flora e da Fauna Silvestres em Perigo de Extinção (NOWAK, 1991). O Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), o incluiu na Lista Oficial da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção (BERNARDES, et al, 1990).

WETZEL (1982), afirma que as áreas abertas são o habitat preferencial do Tatu-canastra, no entanto, o mesmo possui ampla distribuição geográfica e pode ocupar diferentes tipos de habitat, desde florestas de terras baixas e altas, até savanas.

Carter e Encarnação (1983) analisaram o formato e as dimensões das tocas de quatro espécies de tatus no Parque Nacional da Serra da Canastra.

Devido à escassez de material sobre o Tatu-canastra, o presente trabalho teve como objetivo fazer o levantamento dos vestígios do mesmo nas áreas da RPPN – VE, em cumprimento à primeira etapa de um trabalho ainda maior que visa estudar sua ecologia, com vistas a traçar metas protecionistas e conservacionistas da espécie, buscando sua proteção e conservação nas áreas da RPPN – VE.

 

MATERIAL E MÉTODOS

 

No presente trabalho, foi empregada a técnica de observação direta. Durante três dias de observações e levantamentos, foram realizados registros fotográficos com Câmera Sony DSC – H10, bem como com aparelho de GPS Garmyn Map 60-CSx, o qual foi utilizado para o georreferenciamento dos locais onde foram registrados cada um dos vestígios.

Em todos os registros, sejam eles fuçados (solo revolvido superficialmente devido ao ato de fuçar), ou tocas, manteve-se a preocupação de se observar as características do local, e ainda peculiaridades como, por exemplo, as dimensões das tocas e, sobretudo, o estabelecimento de escala, a qual foi feita com o uso de uma fita  métrica e em alguns casos com uma caneta esferográfica tamanho padrão.

Foram levantados vinte e oito pontos, dentre fuçados e tocas, sendo a maioria recente. Em todos os pontos foram feitas observações acerca do perfil fitofisionômico, bem como anotados dados como diâmetro e ângulo de escavação.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

 

Para os levantamentos dos vestígios da presença do Tatu-canastra Priodontes maximus nas áreas da RPPN – VE foram feitas três incursões às matas, sendo que as duas primeiras, mais breves, serviram para serem identificados os locais onde existiam os vestígios. A terceira incursão foi realizada exclusivamente para registrar e georreferenciar os vestígios localizados.

Por meio dos dados da Tabela 1, observa-se que do total de 28 vestígios levantados, 16 são tocas (57,14%), ao passo que 12 são fuçados (42,86%).

Pode-se observar também que a distância entre os vestígios georreferenciados e as trilhas existentes no local, não ultrapassou os 4,5m, sendo que a menor distância foi de 0,2m, salientando-se que a média entre as distâncias dos vestígios e as trilhas ficou em 1,47m.

Com base nesses dados pode-se concluir que todos os vestígios levantados, tocas e fuçados, se encontravam margeando trilhas, ou seja, associados à presença das mesmas.

Segundo Carter (1983), que estudou 4 espécies de tatus que habitam a Serra da Canastra, sendo elas Dasypus novemcinctus, Cabassous unicinctus, Cabassous tatouay e Prindontes maximus, é possível se identificar as espécies de tatus de acordo com os padrões de escavação e tamanhos de suas tocas.

Observando-se os dados da Tabela 2, conclui-se que o menor diâmetro obtido para as tocas foi de 39 cm, ao passo que o maior foi de 65 cm. A média dos diâmetros das tocas ficou em 48,25cm, o que nos permite concluir, mesmo sem registro fotográfico ou observação direta do animal, que se trata da espécie Priodontes maximus Kerr, 1792. Em seus estudos Carter (1983) afirma que a espécie Priodontes maximus apresenta diâmetro médio das tocas em torno de 45 cm.

Ainda com base nos dados da tabela 2, observa-se que a angulação das tocas escavadas pelo Tatu-canastra Priodontes maximus, apresenta média de 47,5º, tendo predominado o tipo de ângulo agudo, sendo o mais fechado de 41º e o mais aberto de 56º, o que possivelmente ocorre em função de seu tamanho que impossibilitaria uma toca mais vertical, que tendesse a um ângulo reto de escavação.

Todos os vestígios levantados ocorreram em fitofisionomias típicas de Cerrado, sendo que 53,57% foram localizadas em formação de Cerrado stricto sensu, enquanto que 28,57 % foram encontradas na formação Cerradão, e 17,86 na formação Campo-sujo. 

 

TABELA.1 – Dados e Coordenadas dos vestígios de Priodontes maximus observados na Reserva  Particular do Patrimônio Natural Vale Encantado


TOCAS

COORDENADAS GEOGRÁFICAS

PROXIMIDADE DE TRILHAS

TIPO DE VESTÍGIO

 

LATITUDE

LONGITUDE

DISTÂNCIA (m)

FUÇADOS

TOCAS

 

TOCA 1

-19 32' 56,06868''

-47 53' 57,55038''

1,6

 

1

TOCA 2

-19 32' 55,77570''

-47 53' 57,57942''

1,3

 

1

TOCA 3

-19 32' 21,34812''

-47 53' 17,57394''

1,4

 

1

TOCA 4

-19 32' 22,16097''

-47 53' 17,55413''

0,6

 

1

TOCA 5

-19 32' 29,66009''

-47 53' 18,09900''

2,1

 

1

TOCA 6

-19 32' 29,69259''

-47 53' 18,09958''

4,2

1

 

TOCA 7

-19 32' 29,75757''

-47 53' 18,10074''

4,5

 

1

TOCA 8

-19 32' 29,78951''

-47 53' 18,13559''

1,8

1

 

TOCA 9

-19 32' 29,75592''

-47 53' 18,20356''

0,9

1

 

TOCA 10

-19 32' 32,41041''

-47 53' 18,86790''

1,1

1

 

TOCA 11

-19 32' 38,54663''

-47 53' 21,30842''

1,4

 

1

TOCA 12

-19 32' 43,41837''

-47 53' 23,55506''

0,2

1

 

TOCA 13

-19 32' 43,35065''

-47 53' 23,72527''

0,8

1

 

TOCA 14

-19 32' 43,31925''

-47 53' 23,65614''

1,4

 

1

TOCA 15

-19 32' 44,75999''

-47 53' 25,01887''

0,3

1

 

TOCA 16

-19 32' 46,01731''

-47 53' 25,65838''

1,6

 

1

TOCA 17

-19 32' 46,86046''

-47 53' 25,77625''

1,1

 

1

TOCA 18

-19 32' 49,99243''

-47 53' 27,06629''

0,9

 

1

TOCA 19

-19 32' 49,86650''

-47 53' 30,86956''

0,2

1

 

TOCA 20

-19 32' 49,58953''

-47 53' 31,92742''

0,4

1

 

TOCA 21

-19 32' 49,54331''

-47 53' 32,78369''

1,3

 

1

TOCA 22

-19 32' 49,42826''

-47 53' 33,87872''

1,2

 

1

TOCA 23

-19 32' 49,27521''

-47 53' 35,31592''

3,1

1

 

TOCA 24

-19 32' 48,79670''

-47 53' 36,78158''

1,4

1

 

TOCA 25

-19 32' 46,53833''

-47 53' 39,79254''

2,6

 

1

TOCA 26

-19 32' 43,36083''

-47 53' 43,36989''

1,9

 

1

TOCA 27

-19 32' 41,99232''

-47 53' 43,58545''

1,5

1

 

TOCA 28

-19 32' 29,63602''

-47 53' 43,94773''

0,4

 

1

 

 

 

 

 

ƒa = 12

ƒa = 16

 

 

MÉDIA

1,47

  ƒr (%) = 42,86

ƒr (%) = 57,14

.                         

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

TABELA 2. Ângulos de escavação das tocas observadas nas áreas da Reserva Particular do Patrimônio

Natural Vale Encantado e tipos de fitofisionomias associadas às mesmas

TOCAS

LATITUDE

LONGITUDE

DIAMETRO (cm)

ÂNGULO DE           ESCAVAÇÃO (º)

FITOFISIONOMIA

 

 

 

 

 

CERRADÃO

CERRADO (senso strictu)

CAMPO SUJO

 

 

 

 

 

 

 

 

TOCA 1

-19 32' 56,06868''

-47 53' 57,55038''

53

43

1

 

 

TOCA 2

-19 32' 55,77570''

-47 53' 57,57942''

45

55

1

 

 

TOCA 3

-19 32' 21,34812''

-47 53' 17,57394''

43

46

 

1

 

TOCA 4

-19 32' 22,16097''

-47 53' 17,55413''

49

45

 

1

 

TOCA 5

-19 32' 29,66009''

-47 53' 18,09900''

51

51

 

1

 

TOCA 6

-19 32' 29,69259''

-47 53' 18,09958''

 

 

 

1

 

TOCA 7

-19 32' 29,75757''

-47 53' 18,10074''

53

44

 

1

 

TOCA 8

-19 32' 29,78951''

-47 53' 18,13559''

 

 

 

 

1

TOCA 9

-19 32' 29,75592''

-47 53' 18,20356''

 

 

 

 

1

TOCA 10

-19 32' 32,41041''

-47 53' 18,86790''

 

 

 

 

1

TOCA 11

-19 32' 38,54663''

-47 53' 21,30842''

42

44

 

 

1

TOCA 12

-19 32' 43,41837''

-47 53' 23,55506''

 

 

 

1

 

TOCA 13

-19 32' 43,35065''

-47 53' 23,72527''

 

 

 

 

1

TOCA 14

-19 32' 43,31925''

-47 53' 23,65614''

39

56

 

1

 

TOCA 15

-19 32' 44,75999''

-47 53' 25,01887''

 

 

 

1

 

TOCA 16

-19 32' 46,01731''

-47 53' 25,65838''

39

52

 

1

 

TOCA 17

-19 32' 46,86046''

-47 53' 25,77625''

43

48

 

1

 

TOCA 18

-19 32' 49,99243''

-47 53' 27,06629''

51

41

 

1

 

TOCA 19

-19 32' 49,86650''

-47 53' 30,86956''

 

 

 

1

 

TOCA 20

-19 32' 49,58953''

-47 53' 31,92742''

 

 

 

1

 

TOCA 21

-19 32' 49,54331''

-47 53' 32,78369''

53

53

 

1

 

TOCA 22

-19 32' 49,42826''

-47 53' 33,87872''

55

51

1

 

 

TOCA 23

-19 32' 49,27521''

-47 53' 35,31592''

 

 

1

 

 

TOCA 24

-19 32' 48,79670''

-47 53' 36,78158''

 

 

 

1

 

TOCA 25

-19 32' 46,53833''

-47 53' 39,79254''

43

44

1

 

 

TOCA 26

-19 32' 43,36083''

-47 53' 43,36989''

48

46

1

 

 

TOCA 27

-19 32' 41,99232''

-47 53' 43,58545''

 

 

1

 

 

TOCA 28

-19 32' 29,63602''

-47 53' 43,94773''

65

45

1

 

 

 

 

 

 

 

 

ƒa = 8

ƒa = 15

ƒa = 5

 

 

MÉDIAS

48,25

47,75

  ƒr (%) = 28,57

 ƒr (%) = 53,57

 ƒr (%) = 17,86

 

CONCLUSÕES

A análise das dimensões das tocas e fuçados permitem concluir que o Tatu-canastra Priodontes maximus habita a região da RPPN – VE.

Conclui-se também que é possível padronizar as tocas do Tatu-canastra, com base nos levantamentos apresentados, determinando-se as médias de diâmetro (48,25cm), e de angulação das escavações (47,75º), bem como a predominância dos vestígios em determinado tipo de fitofisionomia, tendo no estudo em tela, prevalecido com maior número de vestígios, a formação Cerrado strictu senso.

 

REFERÊNCIAS

 

ANACLETO, Teresa Cristina S.& MARINHO-FILHO, Hábito alimentar do tatu-canastra (Xenarthra, Dasypodidae) em uma área de cerrado do Brasil Central , Revista brasileira de Zoologia, 2001;

BERNADES, AT., A.B.M. MACHADO & A.B. RYLANDS. 1990. Fauna brasileira ameaçada de extinção. Belo Horizonte, Fundação Biodiversitas para a Conservação da Diversidade Biológica, 62p

CABRERA A. & J. YEPES. 1940. Mamiferos sud-americanos. Buenos Aires, Compañia Argentina de Editores, 370p.

CARTER, T. S.; ENCARNAÇÃO, C. D. 1983. Characteristics and use of burrows by four species of armadillos in Brazil. Journal of Mammalogy 64(1): 103 – 108p;

CERVO, L. C. e BERVIAN, P. A. Metodologia Cientifica, 5ª ed., São Paulo – SP, Prentice Hall, 2002;

FERREIRA, A.A. et al. Levantamento de animais silvestres atropelados na BR-153/GO-060 nas imediações do Parque Altamiro de Moura Pacheco. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ZOOLOGIA, 25., 2004. Brasília. Anais... Brasília, 2004. p. 434.

FONSECA, G. A. B. da e AGUIAR, J. M. 2004. The 2004 Edentate Species Assessment Workshop.  Edentata 6: 1–26.

NOWAK, R.M. 1991. Walker's mammals of the world 2. Baltimore, Jonhs J-1opkins Univ. Press, 1362p.

SANTOS, L.R.; CAVALCANTI, R.B. Revisão de estudos sobre a dispersão de fauna em paisagens fragmentadas de Cerrado para modelos de simulação. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ZOOLOGIA, 25., 2004. Brasília. Anais... Brasília, 2004. p. 445.

SILVA, F. 1984. Mamíferos Silvestres do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, Fund. Zoobotânica do Rio Grande do Sul, 246p.

WETZEL, R.M. 1982. Sistematics, distribution, ecology and conservation of South American edentates, p. 345-375. In: M.A. MARES & H. GENOWAYS (Eds). Mammalian biology in South America. Pennsylvania, Univ. Pittsburg, 539p;

______. 1985. The taxonomy and distribution of armadillos, Dasypodidae, p. 23-46. In: G.G. Montgomery CEd.). The Evolution and eeology of sloths, armadillos, and vermilinguas. Washington, D.e., Smithsonian Inst. Press, 451 p;